Por Odair José da Silva
Neste texto procuro analisar uma questão que chamou muito a minha
atenção. A mulher enquanto bruxa. Sempre fui fascinado pelo tema e me
perguntava porque, ao longo do tempo, as mulheres sempre foram vítimas
de preconceito e acusadas de desvios que acabavam as levando para a
fogueira. Na Idade Média a fogueira era literal mesmo e milhares de
mulheres foram queimadas ao longo dos séculos que é possível ver ainda
as fumaças que se levantaram naquela época, mas nos dias atuais ainda
vemos as mulheres sendo lançadas nas fogueiras do preconceito e
violência. Neste sentido, este texto tenta expor algumas concepções de
como tudo isso foi construído e por que, ainda em muitos casos, persiste
em continuar.
A demonização da mulher é uma construção ideológica de pessoas que
sempre colocaram a culpa do mal sobre os ombros femininos. Tanto o mito
de Pandora como as distorções da narração bíblica de Gênesis vai
ponderar a mulher como a causadora do pecado. No entanto, o que podemos
inferir da narrativa bíblica é que há um enorme equivoco causado por
seus interpretes ao longo dos séculos. Os homens que mais condenam as
mulheres (desde os antigos filósofos) são aqueles que fizeram
construções ideológicas do mal contido no corpo e alma feminina.
O livro é dividido em três partes; na primeira, relata as propriedades
do demônio e sua ligação com a bruxaria; a segunda trata de como lidar
com os malefícios durante o dia a dia; finalmente, a terceira parte faz a
descrição de como proceder aos julgamentos e como cumprir as sentenças.
A maior inovação da obra do inquisidor Institoris (Kraemer) foi
justamente atribuir exclusivamente à mulher a condição de "bruxa".
Segundo ele, não existem bruxos, só bruxas.
A mulher sempre foi, ao longo da história humana, atacada de todas as
formas como sendo causadora de todo o mal, ou pelo menos, de o provocar.
A ideia de sexo frágil e receptáculo do demônio foi permeado pelas
ideias de provocar o pecado no mundo. Mas, com essa obra “abençoada”
pelo Papa, a demonização da mulher atingiu estágios dantes inimagináveis
e provocou milhares de mortes de mulheres acusadas de bruxaria.
Logicamente que é necessário ter estômago para digerir as palavras infelizes de Institoris como podemos inferir da passagem a seguir:
"Há três coisas insaciáveis, quatro mesmo que nunca dizem: Basta! A quarta é a boca do útero. Pelo que, para saciarem a sua lascívia, copulam até mesmo com demônios. Poderíamos adiantar ainda outras razões, mas já nos parece suficientemente claro que não admira ser maior o número de mulheres contaminadas pela heresia da bruxaria. E por esse motivo convém referir-se a tal heresia culposa como a heresia das bruxas e não a dos magos, dado ser maior o contingente de mulheres que se entregam a essa prática. E abençoado seja o Altíssimo, Que até agora tem preservado o sexo masculino de crime tão hediondo: como Ele veio ao mundo e sofreu por nós, deu-nos, a nós homens, esse privilégio".
Texto: Odair José, Escritor Cacerense